Sem referência, não há sentido
Entenda como a perda de um referencial absoluto afeta nossa saúde psíquica e o papel da psicoterapia na reconstrução de um eixo interno de sentido.
Por Jonathan Harten
5/18/20252 min read
Vivemos uma época marcada por uma inquietação silenciosa: mesmo cercados de estímulos, conquistas e possibilidades, muitos sentem um vazio profundo. Nos atendimentos, escuto frases como “Nada faz sentido”, “Cada um tem sua verdade”, ou “Não sei mais no que acreditar”. Esses sintomas, embora subjetivos, têm uma raiz comum: a crise do fundamento da realidade — uma ruptura cultural que esvazia o sentido da existência e torna o ser humano órfão de um eixo maior que o próprio desejo.
A perda de um referencial absoluto
Historicamente, Deus foi para muitas culturas o fundamento da ordem moral, do sentido e da própria realidade. Quando essa centralidade é deslocada — como apontam diversos pensadores modernos — o sujeito é lançado a um mundo onde tudo parece relativo: valores, verdades, compromissos. O "eu" passa a ser a única medida das coisas. Mas essa aparente autonomia cobra um preço: insegurança, fragmentação interior e confusão moral.
“Onde falta um ‘para quê’, qualquer ‘como’ se torna insuportável.” — Viktor Frankl
Como isso aparece na clínica?
Pacientes que enfrentam esse tipo de crise geralmente não chegam dizendo: “Perdi o fundamento do real”. Eles chegam com sintomas: ansiedade, apatia, medo difuso, incapacidade de tomar decisões de longo prazo, medo de comprometer-se, relações líquidas. Sentem-se perdidos entre seus desejos imediatos e a ausência de um norte.
É comum ouvirmos:
“Acho que posso inventar minha própria verdade”
“Não acredito mais em nada nem em ninguém”
“Se tudo é relativo, por que me cobrar tanto?”
Essas falas indicam uma perda de enraizamento. Sem um eixo interno, o sujeito flutua entre desejos, opiniões e angústias, sem saber no que confiar.
A tarefa do terapeuta: reconstruir o eixo
A missão clínica aqui não é doutrinar nem impor valores, mas ajudar o paciente a reencontrar o que lhe dá firmeza interior — um sentido que transcenda os caprichos momentâneos e reconecte-o com o que há de mais humano: a busca pela verdade, pelo bem e pela beleza.
Essa reconstrução pode assumir muitas formas:
Reconexão com ideais e vocações esquecidas;
Redescoberta de valores morais pessoais;
Reaproximação de dimensões espirituais que foram abandonadas ou negligenciadas;
Reintegração da responsabilidade como ponte entre liberdade e sentido.
A importância da transcendência na terapia
Chamar essa busca de “Deus”, “vocação”, “ordem do ser” ou “sentido profundo” pode variar conforme a linguagem de cada paciente. O importante é entender que, sem algo maior que a própria subjetividade, a alma humana adoece. A transcendência não é uma fuga da realidade, mas um enraizamento profundo nela.
A crise do fundamento da realidade não é um problema apenas filosófico — é uma das raízes do adoecimento psíquico da nossa época. Terapias que tratam apenas os sintomas, sem considerar essa dimensão mais profunda, podem aliviar, mas não curar. A psicoterapia, quando aberta ao mistério do ser e à busca por um bem maior, pode ser um verdadeiro caminho de restauração da alma.
Se você sente que perdeu o sentido das coisas e busca reencontrar o fio da sua história, posso te acompanhar nesse caminho com escuta, profundidade e responsabilidade.
Palavras-chave: vazio existencial, crise de sentido, psicoterapia e transcendência, relativismo moral, niilismo