Por que a cura emocional só começa quando você descobre seu ideal de vida

Mais do que controle emocional, o que você precisa é de direção interior. Com base na teoria do self-ideal de Magda Arnold, este artigo mostra como organizar os afetos à luz de um ideal de pessoa — e por que isso pode ser o que está faltando no seu processo terapêutico.

Por Jonathan Harten

5/18/20254 min read

black blue and yellow textile
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A ideia de que “regular emoções” é algo positivo já se tornou senso comum. Mas afinal: regular para quê? Apenas para sentir-se melhor? Ou para tornar-se alguém melhor? O artigo publicado em Frontiers in Psychology por Ruiz-Fuster, Bernal-Martínez e Echavarría (2024) resgata a obra de Magda Arnold — psicóloga influenciada por Santo Tomás de Aquino — e propõe algo mais profundo: a verdadeira regulação emocional não visa apenas o equilíbrio afetivo, mas a formação da personalidade em direção à maturidade e à felicidade verdadeira.

O que é o “self-ideal”?

Para Arnold, o ser humano orienta sua vida por um ideal de si mesmo — um modelo de plenitude que ela chama de self-ideal. Esse ideal organiza nossas emoções, motivações e escolhas. Mas não se trata de um ideal fantasioso ou subjetivo: um self-ideal válido deve estar de acordo com a natureza humana e com sua vocação à perfeição moral, intelectual e relacional. Ele é tanto uma meta quanto um critério de julgamento para nossos afetos e ações.

“A felicidade é o estado daquele que escolheu um self-ideal apropriado à sua natureza e o seguiu com firmeza.” — Magda Arnold, 1970

Emoção como resposta ao valor

Arnold entende a emoção como uma resposta imediata e intuitiva a algo que julgamos como bom ou mau. Mas esse julgamento emocional — chamado por ela de appraisal — pode estar mal formado, seja por traumas, hábitos afetivos desordenados ou confusões de valor. Por isso, regular emoções não é apenas contê-las, mas reorganizar aquilo que se considera valioso.

Assim, regular emoções significa também educar os afetos, de modo que eles deixem de nos conduzir para o que é menor e passem a cooperar com a realização do nosso melhor.

A regulação emocional como caminho para a eudaimonia

O estudo aponta que o conceito de flourishing (florescimento) na psicologia contemporânea — especialmente em sua vertente eudaimônica — se aproxima muito da noção aristotélica de vida boa e virtuosa. É exatamente essa a direção proposta por Arnold: a regulação emocional só é bem-sucedida quando colabora com o amadurecimento da personalidade e a realização do self-ideal.

Diferente da simples adaptação ao ambiente, esse tipo de regulação visa:

  • Reavaliar experiências emocionais antigas e corrigir seu peso na memória (reappraisal);

  • Reconhecer emoções disfuncionais e substituí-las por reações mais adequadas ao ideal pessoal;

  • Reforçar positivamente os afetos que favorecem a busca por bens objetivos e significativos.

Estratégias práticas de Arnold para a regulação emocional

A psicóloga propõe diversas estratégias práticas:

  • Reconhecimento do significado da emoção: entender de onde ela vem e o que comunica.

  • Reeducação da atenção e da imaginação: deslocar o foco emocional para aspectos mais nobres da realidade.

  • Experiências corretivas: viver situações que ajudem a reconfigurar julgamentos emocionais distorcidos.

  • Escolhas conscientes contra o impulso: desenvolver o hábito de agir de forma racional mesmo diante de emoções intensas.

Emoção e motivação: um chamado à ação

Arnold também mostra como emoções e motivações se articulam: o que sentimos nos move, mas o que nos move de verdade deve estar subordinado a um ideal válido. Se a motivação é egoísta ou desordenada, ela nos afasta da realização. Se é construtiva, altruísta e orientada ao bem, ela fortalece a personalidade. Assim, regular emoções é também escolher por que e para que viver.

A caminhada na vida interior

A verdadeira regulação emocional não é apenas uma técnica de controle afetivo, mas uma reorganização da vida interior. A partir da teoria do self-ideal de Magda Arnold, esse processo se revela como um caminho rumo à plenitude da personalidade e ao florescimento humano. Não basta sentir-se bem — é preciso ser o bem que se deseja alcançar.

Se você busca mais do que alívio emocional — se deseja crescer, amadurecer e viver com propósito —, posso te acompanhar nesse caminho de reorganização profunda da alma.

Palavras-chave: regulação emocional, Magda Arnold, self-ideal, eudaimonia, felicidade, bem-estar psicológico, personalidade integrada, psicoterapia e sentido

Explore as referências

Aproveite os links abaixo para se aprofundar no tema

Magda Arnold

A teoria das emoções à luz de Santo Tomás, unindo psicologia cognitiva e metafísica para compreender a alma humana.

Martin Echavarría

Um panorama completo das principais escolas da psicologia, culminando com a visão integradora de Santo Tomás sobre a alma humana.

Aristóteles

A obra-prima que fundamenta a ética ocidental, revelando como a virtude conduz o ser humano à verdadeira felicidade.