Do Grito de Nietzsche ao Vazio de Frankl

A "morte de Deus", o niilismo moderno e a tarefa terapêutica de restaurar o sentido

Por Jonathan Harten

6/1/20252 min read

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“Deus está morto” — anunciou Nietzsche. E completou: “fomos nós que o matamos.”

Essa frase, muitas vezes citada sem contexto, é um dos diagnósticos mais profundos da crise espiritual da modernidade. Mais do que negar a existência de Deus, Nietzsche apontava para algo mais radical: o colapso da estrutura de sentido que dava coesão à vida ocidental. Com a morte de Deus, morrem também os fundamentos objetivos do bem, do belo e do verdadeiro — e o homem, antes peregrino, torna-se errante.

Décadas mais tarde, Viktor Frankl, médico psiquiatra e sobrevivente de Auschwitz, captaria os sintomas psicológicos dessa ruptura. Em vez de tratar apenas a dor como um sintoma físico ou emocional, Frankl via nela um grito pela falta de sentido. Para ele, a grande neurose coletiva do século XX — e, por extensão, do nosso tempo — é o niilismo existencial: o vazio provocado por uma vida que já não reconhece nenhum “para quê”.

Quando o homem se torna órfão de transcendência

Nietzsche fala da “morte de Deus” como um processo lento, inconsciente, quase civilizacional. Não foi um assassinato deliberado, mas uma erosão simbólica. A razão instrumental substituiu o logos; a técnica, a contemplação; o consumo, o culto. E o que restou?

Um homem saturado de estímulos, mas exaurido de sentido.

A alma moderna, em busca de liberdade absoluta, acabou sem direção — e, como disse o próprio Nietzsche, “quem nos deu a esponja para apagar o horizonte?”

Frankl reconhece esse apagamento e propõe um caminho terapêutico: não o retorno forçado à fé, mas a abertura radical ao sentido. Para ele, a saúde psíquica está ligada à capacidade de encontrar um significado maior do que o próprio ego. É essa capacidade que ajuda a pessoa a suportar o sofrimento, organizar as escolhas e construir vínculos verdadeiros.

A tarefa terapêutica hoje

Em um mundo fragmentado, a psicoterapia não pode mais se contentar com ajustes comportamentais ou alívios sintomáticos. Ela é chamada a ser lugar de reconstrução do sentido, não como imposição, mas como descoberta. E essa descoberta exige que se vá além do eu:

  • Para o vínculo com os outros,

  • Para a missão pessoal,

  • Para a transcendência.

A dor contemporânea, muitas vezes, não nasce da intensidade do sofrimento, mas da ausência de um “para quê” que o justifique. Como dizia Nietzsche — agora em tom convergente com Frankl —:

“Quem tem um porquê enfrenta qualquer como.”

A psicoterapia que deseja tocar a alma de verdade precisa ajudar o sujeito a reencontrar esse “porquê”.

Não com slogans, mas com profundidade.

Não com técnicas vazias, mas com presença, escuta e coragem de nomear o invisível.

Você sente que está vivendo, mas sem saber para quê? Às vezes, a angústia que parece sem causa é apenas o eco de um sentido que ainda não foi encontrado. Se esse texto falou com você, talvez seja hora de conversar.

Palavras-chave: niilismo moderno, Viktor Frankl, Nietzsche, perda de sentido, modernidade, neurose coletiva, psicoterapia existencial, logoterapia e sentido da vida