Além do prazer: como redirecionar o desejo na terapia
A psicologia moderna reduziu o desejo ao prazer imediato, mas a alma humana anseia por algo mais profundo. Neste artigo, exploramos como a psicoterapia pode reeducar o Eros e restaurar o vínculo com o bem, a verdade e a transcendência.
Por Jonathan Harten
5/18/20253 min read
Muitos pacientes chegam à terapia com uma sensação de esgotamento: relações vazias, impulsos incontroláveis, repetições dolorosas. Há um traço comum nessas histórias: o desejo perdeu seu rumo. Submetido à lógica do prazer imediato, tornou-se compulsivo, ansioso, frustrado. Mas o desejo — como já sabiam os antigos — pode ser mais do que isso. Pode ser chamado, ascensão, busca por plenitude. E é essa reorientação que a terapia pode favorecer.
A crítica à redução do desejo
Freud concebeu a libido como uma força descendente, voltada à descarga e à satisfação. Isso trouxe avanços importantes, sobretudo na compreensão dos conflitos inconscientes e das repressões. No entanto, essa concepção — centrada em trauma e prazer — reduziu o escopo do desejo humano, apagando seu potencial de transcendência.
Ao contrário disso, a tradição filosófica — de Platão a Viktor Frankl — entende o Eros como uma força que se eleva, que impulsiona a alma na direção do bem, da beleza e da verdade. Quando esse desejo é reduzido ao plano sensível, a alma adoece por falta de horizonte.
Como isso aparece na clínica?
Busca compulsiva por prazer ou distração
Relações marcadas por carência, dependência ou idealização
Desânimo ou cinismo diante de valores morais e espirituais
Sensação de que o “lado sombrio” do psiquismo é inevitável e intransponível
É comum, por exemplo, que o paciente diga:
“Eu sou assim mesmo, não consigo mudar.”
“Não adianta tentar, uma hora a gente cede.”
“O prazer é tudo que me resta.”
Essas falas revelam uma identificação com pulsões mal educadas, com traumas não ressignificados e com uma visão do desejo como força cega, não como potencial criador.
A tarefa terapêutica: reeducar o desejo
O papel da psicoterapia aqui é profundo: não é reprimir o desejo, mas reorientá-lo. Isso exige escuta, paciência, confrontação respeitosa e um trabalho contínuo de reconstrução da vida interior.
Alguns caminhos terapêuticos possíveis:
Explorar vínculos afetivos saudáveis e duradouros;
Resgatar valores que deem sentido às escolhas;
Identificar o “chamado interno” que estrutura o desejo;
Introduzir a ideia de virtude como forma de ordenar a vida afetiva e pulsional.
Educar o desejo não é sufocá-lo — é permitir que ele aponte para algo maior do que si mesmo.
O desejo como ponte para a transcendência
Quando o paciente descobre que seu desejo é, no fundo, desejo de sentido, de comunhão e de plenitude — o processo terapêutico ganha outra profundidade. Nesse ponto, o desejo se torna um combustível para se chegar ao destino, e não mais um inimigo. Ele deixa de ser apenas carência e passa a ser potência de entrega, confirmação do chamado à vocação, resposta ao bem.
Conclusão
A psicoterapia que se limita a lidar com o prazer e o trauma pode aliviar, mas não liberta. O desejo humano pede mais. Ele pede direção, forma, sentido. Quando acolhido e redirecionado, o Eros deixa de ser um impulso caótico e se torna uma força que está em sintonia com a alma ordenada.
Se você sente que seu desejo tem te aprisionado — ou que está preso num ciclo de repetições vazias —, talvez seja hora de reencontrar a direção. Posso caminhar com você nesse processo de reencontro com o seu verdadeiro querer.
Palavras-chave: desejo e prazer, Eros, Freud, terapia integrativa, reeducação do desejo, transcendência
Explore as referências
Aproveite os links abaixo para se aprofundar no tema
Platão






Um compilado de obras para mergulhar no pensamento de Sócrates e Platão.
Viktor Frankl
O autor da Logoterapia mostra como foi a sua busca do sentido num campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
Dietrich von Hildebrand
Uma defesa profunda e acessível da afetividade como centro autêntico da pessoa, à luz da filosofia e da vida de Cristo.